quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Estudo mostra que geração digital não sabe pesquisar

Ferramentas de busca como o Google tornaram os alunos menos preocupados com a credibilidade de uma fonte de informação
Há pouco tempo, quando os alunos eram solicitados a fazer um trabalho de pesquisa, era necessário ir até uma biblioteca e realizar a busca em diversos livros didáticos e enciclopédias. Nos dias de hoje, a realidade é outra: debruçar-se sobre páginas impressas é raro quando existem milhões de links sobre o assunto desejado à disposição com apenas um clique.
Mas, o que deveria ser um avanço acabou resultando em retrocesso, segundo um estudo americano que aponta que a geração digital não sabe pesquisar. Na investigação realizada na Universidade de Charleston, nos Estados Unidos, ficou claro que os estudantes de hoje não sabem realizar uma pesquisa de forma efetiva. Conforme os resultados, o grande inimigo está na comodidade que o meio digital oferece. Ferramentas de busca como o Google tornaram os alunos menos preocupados com a credibilidade de uma fonte de informação, por exemplo.
No estudo, os pesquisadores pediram que um grupo de universitários respondesse a um questionário utilizando a internet como meio de pesquisa. Para testar os participantes, foram colocadas intencionalmente informações erradas nos primeiros resultados das buscas realizadas pelos estudantes. Como previsto, os alunos basearam-se nos primeiros links e erraram todas as questões.
O trabalho revelou uma realidade lamentável: os estudantes da era digital se contentam com informações rápidas, sem se importar com procedência e fidelidade. Para José Moran, professor aposentado de Novas Tecnologias da Universidade de São Paulo (USP) e diretor de Educação a Distância na Universidade de Anhanguera (Uniderp), o fato é consequência de uma geração que cresceu com computadores e está acostumada com informações em 140 caracteres. Contudo, Moran acredita que o fato não se restringe somente a crianças e adolescentes.
“A internet deixou as pessoas em geral mais acomodadas. Adultos também cometem erros ao realizarem pesquisas online”, diz. Por isso, o professor acredita que um dos papéis da escola, atualmente, deve ser o de ensinar metodologias de pesquisa desde cedo. “Os educadores pedem tema de estudo, mas não ensinam metodologias”, afirma.
Outra pesquisa americana também comprova que jovens da geração digital não se preocupam com a procedência de suas fontes de estudo. Realizada pela Universidade Northwestern (EUA), a pesquisa pedia que 102 adolescentes do Ensino Médio buscassem o significado de diversos termos na internet. Todos tiveram sucesso nas respostas, mas nenhum soube informar quais foram os sites utilizados. “Os jovens confiam demais na internet”, destaca o diretor de Educação a Distância da Uniderp.
Ensino de pesquisa na internet
Na Escola de Educação Básica Rocha Pombo, em São Joaquim (SC), o projeto “Ensinando a fazer pesquisas na internet” foi implantado nas turmas de 4º série. Elaborado pelo professor de informática Francisco Mondadori Junior, o projeto tem como objetivo trabalhar o conceito de pesquisa desde cedo, pois assim os estudantes chegam ao Ensino Médio sabendo utilizar as barras de pesquisa a seu favor.
O trabalho consiste em um questionário em que os alunos devem apontar suas áreas de interesse e pesquisar sobre esses assuntos. “Sugerimos a pesquisa na internet, no Google, digitando as palavras-chave das atividades que mais gostam. Cada aluno faz a sua pesquisa, procurando o site mais interessante”, explica, dizendo que os pequenos são auxiliados por professores que também ensinam a importância de utilizar fontes de informação confiáveis.
Professor do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) das escolas estaduais de São Joaquim (SC), Mondadori Junior conta que o ensino da pesquisa científica e escolar é uma das preocupações do núcleo, que procuram criar atividades lúdicas e divertidas para trabalhar o conceito em sala. “Em minha opinião deveria existir uma disciplina só para isso nas escolas”, opina, dizendo que percebe, cada vez mais, a dificuldade dos alunos em realizar trabalhos de pesquisa. “Eles se contentam com os primeiros links”, diz, destacando que é comum ouvir frases como “achei no Google”.
Mondadori Junior defende a postura adotada por algumas escolas e educadores de não permitir o uso da internet como fonte de pesquisa. “É interessante proibir só no início, pois assim o estudante descobre que existem outras possibilidades de estudo, e não somente o meio virtual”, explica. José Moran discorda: “Isso resulta em um estudante que usa livros na escola, e a internet em casa”, sentencia, ressaltando que as dificuldades continuariam existindo. “Um dia esse aluno vai poder usar a internet para pesquisar, e então vai fazer de forma errada, pois não aprendeu na escola”, completa.
Em mais de 20 anos de docência, Moran afirma que nunca deixou de trabalhar metodologias de pesquisa com seus alunos, seja no ensino fundamental ou no superior. “Sempre que eu passo trabalhos, especifico o tipo de pesquisa que eu quero, e ainda vejo com os estudantes algumas possibilidades mostradas pelo Google”, diz, afirmando que ainda compara links e aponta informações que podem estar equivocadas. “Com isso, o jovem passa a desconfiar da internet, pois cria a consciência de que nem tudo que está no meio online é verdadeiro”, conclui.
Na Escola Nossa Senhora das Graças, em São Paulo, a preocupação com o ensino de pesquisa na internet começou em 2009. Os educadores do colégio viram a necessidade de criar uma estrutura online que pudesse auxiliar os estudantes nos trabalhos escolares. Por isso, foi criado o “Caminhos de pesquisa na internet”, uma ferramenta virtual que discute alguns critérios de pesquisa e avaliação das informações. Além dos professores deixarem dicas de endereços confiáveis, os alunos podem postar informações retiradas de sites para que os docentes possam avaliar sua veracidade.
Apesar de achar a solução interessante, Moran alerta que nem sempre os alunos terão uma ferramenta escolar a sua disposição. “A escola precisa ensinar os estudantes a caminharem sozinhos e terem noções críticas de fontes de pesquisa”, opina.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Educação Virtual requer muito mais que tecnologias


Especialista norte-americano aponta exigências e tendências do setor
A Educação Superior Virtual é muito mais do que o uso de novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Foi o que disse Michael Moore, pioneiro do ensino a distância e professor de educação da Universidade do Estado da Pennsylvania, Estados Unidos, durante a primeira palestra do 1° Seminário Internacional GUIDE (Global Universities in Distance Education) de Educação Superior Virtual, realizada em 14 de outubro desse ano, em Florianópolis.
Embora o conceito equivocado do processo de ensino virtual ainda seja adotado por muitas instituições nacionais e internacionais, Moore afirma que tão importante quanto os investimentos nas novas tecnologias estão os cuidados com os processos pedagógicos, as estruturas organizacionais e as políticas educacionais internas e externas. “EAD não é sinônimo de tecnologia. Ainda que as ferramentas sejam um mediador do processo, por si só não viabilizam a efetividade do ensino”, garante ele.
Com os avanços tecnológicos, o professor recomenda a identificação de alternativas que possam favorecer o processo de aprendizagem. “A web 1.0 foi substituída pela versão 2.0. Em 2004, surgiram o MySpace e o Facebook, em 2005, o Youtube e, em 2006, o Twitter”, cita Moore, que reconhece o potencial dessas ferramentas para a interação social. Mesmo assim, ele enfatiza a necessidade dos gestores educacionais identificarem a capacidades dessas redes sociais no desenvolvimento pedagógico.
Mas essas tecnologias, na opinião de Moore, só agregam valor ao processo de ensino quando estiverem acompanhadas de um bom planejamento pedagógico. “Os professores deixam de assumir o papel de grandes autores desse sistema e passam a ser produtores e administradores do fluxo de informações disponíveis na rede”, afirma ele. Para Moore, é preciso garantir que os estudantes – com os mais variados perfis – processem as informações em conhecimentos. “Os programas precisam ser estruturados para um estudo independente”, diz.
Em sua apresentação, Moore também ressalva a importância da estruturação dos processos gerenciais da educação a distância. “No século XXI, os modelos singulares e duplos perdem expressão com a chegada do modelo virtual”, aponta o professor, que cita a criação de alianças estratégicas como tendência ao novo modelo gerencial do setor. “São redes de instituições de Ensino Superior que cooperam entre si na formação e na apresentação de programas, geralmente com dupla titulação”, explica ele. “O sucesso dessas cooperações, no entanto, está no gerenciamento conjunto de todos os processos”, acrescenta ele.
Outra tendência do século XXI na Educação Superior Virtual destacada por Moore é a desagregação vertical. “São alianças estratégicas nos diferentes processos de ensino-aprendizagem. Assim é possível apoiar os melhores conteúdos. É um tipo de rede flexível, versátil e ágil”, define ele.
Por fim, mesmo com a incorporação de tecnologias de alta interatividade e acessibilidade, bem como com a implantação de modelos pedagógicos e gerenciais de qualidade, a sustentabilidade da Educação Superior Virtual Sistema também depende de sistemas políticos internos e externos que favoreçam as expansões. É o que enfatiza Moore. “Sem esse suporte político, não há modelos, parcerias e tecnologias capazes de propiciar a evolução do processo de ensino e aprendizagem virtual dentro e fora do Brasil”, defende ele.
Fonte: universia